Dês de o princípio dos tempos o homem teve uma relação muito próxima com o reino vegetal. As plantas serviam de alimento ao homem primitivo, que se beneficiava da coleta de frutos selvagens e raízes por onde passava. Com o tempo a madeira passou a ser utilizada com matéria prima para gerar fogo e também na construção de residências e utensílios. Foi através da observação que o homem descobriu que as plantas também tinham ciclos de vida e se ele esperasse o tempo necessário, era recompensado com o alimento gerado constantemente pelo vegetal. Através desta simbiose, aliada à domesticação de animais selvagens é que as primeiras sociedades se fixaram, dando passos evolutivos cada vez mais altos.

Observando o comportamento dos animais e através do empirismo ao longo das eras os antigos perceberam que as ervas possuíam propriedades diferentes da alimentação e poderiam ser utilizadas com fins terapêuticos para os mais diversos males e problemas. Assim surgiram os curandeiros e xamãs tribais que, dentre outras coisas, se responsabilizavam pela saúde de todos os membros da tribo através de seu conhecimento das ervas e do reino dos espíritos.

Não existia uma noção de religião como a que possuímos modernamente, os antigos viviam em harmonia extrema com a natureza e tudo era visto como algo vivo, uma grande teia mística e sagrada composta por espíritos livres e senhores do próprio destino. Há uma clara noção de equilíbrio ecossistêmico, onde é comum ritos de agradecimento pelas dádivas naturais e pedidos aos espíritos da natureza, em alguns casos requisitando autorização mesmo para o consumo da caça que embora tenha sido obtida pelo esforço humano, seria na verdade permitida, se não ofertada, pelos entes espirituais. Neste contexto as plantas eram consideradas dotadas de espírito e demonstravam personalidade de acordo com a sua morfologia, o seu ciclo de vida e as suas características farmacológicas, alimentares e terapêuticas. Os primeiros Xamãs conversavam com o espírito das arvores e ervas e assim iam adquirindo conhecimento e sabedoria mágica a qual era associada aos efeitos terapêuticos.

Com o processo natural de evolução e entendimento a humanidade começou a antropomorfizar a sua concepção de um mundo espiritual. A convivência tão próxima destes espíritos ao longo das eras fez com que a imagem dos mesmos passasse a carregar atributos humanos, mas num nível espiritual. Aqui nós temos o começo da personificação das divindades, Deuses com representação humana e semi-humana assumem o controle da natureza e passam a manifestar, em função dos seus atributos, a associação com determinadas ervas e vegetais como lhes sendo elementos sagrados. Assim algumas plantas deixam de representar por si só o espírito inerente da natureza e passam a estar associadas à Divindades específicas.

Os Celtas ainda mantinham essa visão panteísta da natureza e cultuavam em sua forma xamânica várias espécies vegetais tidas como sagradas, como o carvalho e o visco. Os gregos atribuíam ervas específicas aos Deuses, como o louro para Apolo, a romã para Perséfone, e a oliveira para Atena, sempre lembrando que a propriedade do vegetal está ligada de alguma forma à mitologia da Divindade em específico. Existem ainda associação em várias culturas, como Odin e o Freixo na cultura nórdica, o papiro e Toth no Egito... São inúmeras representações e associações.

Com o advento do cristianismo e as perseguições sofridas pelas culturas antigas muito do trabalho feito com ervas tanto a nível mágico quanto a nível salutar se perdeu ou ficou relegado a poucas culturas, ocasionando um enfraquecimento da proximidade homem-natureza. Observamos a sua retomada no trabalho dos Alquimistas, especialmente Felipe Aureolo Teofrasto Bombasto de Hohenheim, mais conhecido como Paracelso. Em seu livro “Botânica Oculta” ele discorre sobre as bases da botânica e farmacologia modernas, com um enfoque especial tanto nos poderes farmacológicos quanto mágicos dos vegetais.

Para entender a vida vegetal do ponto de vista alquímico devemos ampliar os nossos conceitos de forma holística e abolir o puro mecanicismo de nossas mentes, a fim de entender conceitos mais abstratos e obscuros.

De acordo com Paracelso, todas as criaturas viventes são formadas a partir da interação entre o céu empírico(plano Divino), Céu Zodiacal(Universo) e o planeta onde residimos(plano físico). Isso ocorre em um processo de evolução da matéria, visto como ciclos de fermentação dos elementos químicos que ao longo do tempo foram se rearranjando de maneira cada vez mais complexa baseados em uma matriz universal e guiada pela Anima Mundi, pelo Spiritus Mundi e pela Matéria Mundi em um nível divino.

As plantas também fazem parte deste processo de evolução em conjunto com toda natureza, e são os seres capazes de fixar os três poderes divinos citados anteriormente, representados pelos raios de sol no plano físico. Dessa forma permitem um rearranjo cada vez maior neste processo de “fermentação” evolutiva pelo qual todo o planeta passa. Apesar de a genética ainda não existir naquela época, os Alquimistas afirmavam que “Contendo em si a árvore em todo o seu poder de crescimento, cada grão encerra um Misterium Magnum; por conseguinte, no desenvolvimento do grão ou semente encontraremos a imagem invertida da criação do mundo”(Paracelso)

Ainda de acordo com a filosofia alquímica, cada planta é uma estrela na terra: Suas propriedades divinas estão inscritas nas flores e cores das pétalas e suas propriedades terrestres na forma de suas folhas. Assim sendo, toda a magia se encerra nelas, já que em seu conjunto elas englobam a potência dos Astros. Vale lembrar que de acordo com a visão Alquímica, cada Astro representa uma esfera de existência e possui domínios sobre aspectos de nossa vida. Dessa forma ao utilizar determinada erva em trabalhos mágicos estamos lidando diretamente com a energia celeste à qual ela representa.

Assim o reino vegetal recebe influências planetárias e pode ser utilizado para alimentar o homem e curar doenças. As plantas podem reparar a nossa energia orgânica diminuída servindo de alimentos, atuar em nosso campo eletromagnético na cura de doenças, podem ainda influenciar nosso corpo astral e causar estados alterados de consciência, úteis em cerimônias xamânicas, dentre outros. Podem ser utilizadas em cerimônias mágicas, ritos divinatórios e ainda atuar como aceptoras de doenças da alma, auxiliando no processo de cura holística através da transplantação de doenças, prática não muito recomendada por alguns alquimistas.

O trabalho alquímico descreve ainda maneiras pelas quais a humanidade poderia auxiliar no processo evolutivo das plantas: Através do cultivo de seus espécimes, através do crescimento mágico das plantas e através da perpetuação de seus ciclos de vida(palingenesia).

O trabalho com as plantas alquímico consistia na colheita de plantas propícias à realização do objetivo desejado de maneira adequada a aprimorar a sua potência. Assim as ervas eram colhidas em data e hora específicas, sempre observando o máximo de cuidado com a energia da mesma. Uma vez colhidas as plantas recebiam tratamento Hermético especial. Seu fim não consiste somente em dispor das qualidades físicas dos sucos das plantas, da maneira mais proveitosa, e sim em libertar a força viva, a essência, a alma, ou o bálsamo da planta.

Todo corpo possui quintessência, seu quinto princípio ou potência, e através do manuseio correto dos vegetais é possível liberar esse poder que se manifesta em qualquer matéria, em variadas proporções, e se dissolve pelo todo da mesma forma que um corante colore a água se diluído. Isto representa o Arcano, a substância fixa, imortal e incorpórea que conserva, restaura e vivifica os corpos. É na busca deste princípio Divino que os alquimistas realizavam os seus procedimentos de extração e suas cerimônias mágicas.

A magia feita com o reino vegetal era baseada no conhecimento do espírito das plantas, que de acordo com a antiguidade recebiam o nome de dríades, hamadríades, faunos, floras, fadas, dentre outros, sendo proximamente conhecidos das culturas pré-cristãs em seu período de panteismo. Modernamente estes espíritos recebem o nome genérico de “elementais” e possuem um potencial fantástico de cura, equilíbrio e restituição mágica. É comum na lenda de Deuses, Heróis e Avatares a iluminação ser recebida debaixo de uma arvore ou através de uma planta, como o freixo de Odin e a figueira(boddhi) de Buda. Isso ilustra o potencial de sabedoria que podemos receber dos espíritos da natureza.

Mesmo frente à perseguição cristã, que proibia a colheita de ervas em determinadas horas e datas, sob a pena de o infrator ser afastado da liturgia como forma de punição, o trabalho mágico continuava vivo na mente das pessoas e especialmente no pensamento dos grandes alquimistas, que permitiram um renascimento dos trabalhos mágicos com o reino vegetal que culminou na criação e formação das ciências modernas baseadas no empirismo e na experimentação.
Aeryus Cernowain

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